sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O CASO DO COMPUTADOR PARTIDO

O CASO DO COMPUTADOR PARTIDO
Problema Policial de J.ARTUR

Seriam aproximadamente três horas, naquela madrugada quente de um sábada de Agosto, quando o telefone tocou, na sala da direcção do CLUBE DO ARANHIÇO, onde nos encontrávamos a preparar os artigos para o "ARACNÍDEO" do mês imediato.
Marcos Dias, que ocupava a secretária onde o telefone se encontrava, atendeu o aparelho, com o qual estabeleceu um breve diálogo, ao mesmo tempo que se levantava, dirigindo-me olhares e trejeitos que denunciavam a comunicação duma tragédia.
Momentoss depois, circulávamos velozmente a caminho do Gabinete de projectos onde o crime fora praticado.
o O o O o O o
A vítima, o Engº. Alfredo Maia, encontrava-se tombada, com a parte inferior do abdómen apoiada sobre o braço esquerdo de um sofá, e a cabeça encostada a uma perna da mesa do computador, cujo monitor tinha sido estilhaçado. Na sua mão esquerda, ensanguentada, manchando a alcatifa, encontrava-se uma pequena máquina de calcular, agarrada de forma invertida, com o visor voltado para o chão. Marcos Dias confirmou que o homem estava morto, como aliás já lhe haviam dito pelo telefone, e, observando a pistola abandonada sobre uma das mesas, incumbiu-me de ir chamar a Polícia Judiciária.
o O o O o
Após a primeira vistoria do local, feita pelo inspector Sequeira, os técnicos de investigação tiraram fotografias, procuraram eventuais impressões digitais ou quaisquer outros vestígios denunciantes, marcaram a giz a localização do corpo, da arma, da calculadora, das duas cápsulas de balas encontradas no local, do telefone arrancado da ligação, e só então o médico legista e o inspector alteraram a posição do cadáver, retirando-lhe da mão a pequena máquina didital.
Enquanto o Dr. Asdrúbal examinava as feridas, através da camisa abundantemente ensanguentada, e colhida a temperatura do corpo, para avaliar a hora aproximada do crime, o inspector, lançando um olhar de entendido ao estofo do sofá inutilizado pelo sangue, recolhendo a calculadora numa saqueta de plástico, tal como fizera à pistola, anotou mentalmente o número que ali se encontrava escrito: trinta e sete, ponto, zero, quinze, cento e setenta e três.
o O o O o O o
Entretanto, Marcos Dias e eu reuníramos noutra sala todo o pessoal do Gabinete de Projectos, que os agentes do piquete haviam ido buscar às respectivas residências, indicadas pelo Abílio Pinho, o nosso amigo engenheiro que tinha telefonado a solicitar a nossa ajuda.
A Zulmira Cardoso, desenhadora, chorando inconsoladamente, disse que tinha ido jantar com a vítima, e que voltaram para o escritório cerca das vinte e duas horas, tendo estado a acabar um trabalho urgente, até à meia noite e meia hora, e fora o Eng.º Elísio Lé quem a levara a casa, pois moravam ambos na mesma zona da cidade.
O Eng. Elísio Lé, confirmando as declarações da jóvem, disse que chegara ao seu apartamento cerca da uma hora da madrugada, e adiantou que antes de sair com a Zulmira se tinha ido despedir do colega Maia, encontrando-o na companhia do Eng. José Amén. Este dissera-lhe que tinha o seu trabalho quase pronto, e que se retiraria daí a meia hora. Porém, o Alfredo Maia dissera que tinha ainda o trabalho muito atrasado e que só se iria embora lá para as cinco ou seis, quando concluísse os cálculos que estava a elaborar.
O Eng. Amén corroborou as afirmações do Elísio, e disse que, na realidade, tinha abandonado o escritório à uma hora da manhã, deixando o Alfredo Maia sòzinho no gabinete.
Abílio Pinho, disse que chegara da sua deslocação a Bragança, onde fora fiscalizar uma obra, cerca da uma e meia da manhã, e que pouco depois telefonara para casa do Amén, sabendo por este que o Maia ainda ficara no escritório, e que certamente se manteria ali quase toda a noite. Tomou um duche, comeu alguma coisa e bebeu uma cerveja, e cerca das duas e meia ligou para o escritório, mas o telefone emitia um sinal estranho, que ele não soubera identificar se estava inacessível ou em comunicação. Como já tencionava ir ao Gabinete para fazer o relatório da viagem, dirigiu-se para ali. Estranhou encontrar tudo aberto, e ficou estarrecido quando viu o estado em que se encontrava o amigo, com tanto sangue perdido no estofo do sofá. Verificou se ainda teria sinais de vida, mas ao certificar-se de que ele estava morto, dirigiu-se ao telefone para pedir ajuda ao Marcos Dias, que além de bom amigo era assessor jurídico da empresa, mas ao ver o telefone no chão, arrancado da linha, foi a uma cabine pública ligar para casa do criminologista, donde lhe deram o número do Clube do Aranhiço.
o O o O o O o
A meio da manhã, após algumas horas de intenso trabalho, o inspector Sequeira reuniu-nos no seu gabinete. Quando ali cheguei, na companhia do Marcos Dias, já lá estavam todos os companheiros da vítima.
- Meus senhores - começou o inspector - todos sos vossos depoimentos esão correctos, e já foram investigados. Há, porém, algo que quero adiantar. O eng. aia foi assassinado próximo da uma hora e meia da noite, segundo as conclusões do Dr. Asdrúbal, e foi atingido por dois tiros, cujos projeteis se alojaram no estômago e num pulmão, provocando-lhe a morte, que terá ocorrido à volta das duas horas, em consequência da abundante perda de sangue.
O inspector fez uma ligeira pausa, olhou os circunstantes e prosseguiu:
- A vítima, sem dúvida apercebeu-se do ataque e reconheceu o assassino, que o deixou ainda com vida, porque a pistola se encravara tendo ainda três balas no carregador. O assa ssino ter-se-á retirado apressadamente do local, consciente de que a sua vítima não sobreviveria aos ferimentos. Assim, para evitar possíveis pedidos de socorro ou tentativas de emissão de quaisquer mensagens, o criminoso teve o cuidado de inutilizar o telefone, destruir o computador e fazer desaparecer do alcance da moribundo os utensílios de escrita. Este, porém, ao aperceber-se que a morte se aproximava, numa tentativa de que o assassino não ficasse impune...
- o - o - o - o -
Bom!... Terminemos por aqui a descrição do caso, pois já está suficientemente exposta a organização do processo. Na realidade, as conclusões do inspector eram integralmente partilhadas por mim e por Marcos Dias, e um dos intervenientes no caso transitou dali para os calabouços, até que o caso fosse julgado em Tribunal.

PERGUNTA-SE:
- Quem matou o Alfredo Maia?
- Que pormenor, ou pormenores, denunciaram o criminoso?
- Como lhe parece que o caso se terá passado?
Apresente um relatório circunstanciado, já que a sua colaboração lhe proporcionará um interessante exercício literário, intelectual e raciocinativo.

Publicado na secção "MISTÉRIO E AVENTURA" do jornal "O CRIME", em 7 . Maio .1993
Incluido no TORNEIO "PRODUÇÃO-93" - Problema B Nº 6
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Solução do problema policial
O CASO DO COMPUTADOR PARTIDO
apresentada pelo autor: JARTUR

O indivíduo assassinado, ao sentir a chegada da morte, pretendeu denunciar o criminoso. Este, porém, tentara impedir o contacto da vítima com o exterior, motivo porque fizera desaparecer os utensílios de escrita, partira o computador e inutilizara o telefone.
O Alfredo Maia, porém, retira do bolso a sua pequena calculadora, e introduziu-lhe um número que lido de forma invertida, como sugeria a maneira como a máquina estava sujeita à mão do defunto, indicava o nome do criminoso.
O número em questão era: 37. 015173
Como é do conhecimento geral, os caracteres das calculadoras tem uma configuração normalizada, e aquele número, lido com o visor invertido, revelava nitidamente o nome de: ELISIO'LE
Analisados os depoimentos,nota-se que o engenheiro Elisio Lé sabia que o Alfredo Maia ficaria sòzinho após a saída do engenheiro Amén, e então ter-lhe-ía sido fácil, depois de deixar a Zulmira em casa, voltar ao gabinete para concretizar o crime.
Para além dos pormenores referenciados, ficaram expostos, no texto do problema, outros elementos susceptíveis de permitir, aos solucionistas, valorizar, com outras observações, a lógica da sua exposição.

A MORTE DO CAMPEÃO

A MORTE DO CAMPEÃO
Problema policial de Mr. JARTUR

A competição aproximava-se do final. Os motores, no máximo da aceleração, faziam uma barulheira ensurdecedora, e os motociclistas conduziam quase deitados sobre os tanques do combustível, concentrando toda aatenção no manejo das motos.
Os seis émulos que comandavam a prova, pouco distanciados entre si, faziam prodígios de perícia e temeridade, numa luta sem quartel pela melhor posição.
Quando entraram na zona mais perigosa e deserta do circuito, Walter seguia à frente, ambicionando ser o primeiro a chegar à recta das tribunas. Era esse, também, o desejo dos motociclistas que o seguiam a poucos metros. Apareceu-lhes uma curva para a esquerda, a descer, e todos afrouxaram o andamento, erguendo-se um pouco sobre o selim, para ver melhor a pista e dar inclinação aos veículos.
As motos entraram na curva. Ao chegarem a meio, os condutores voltaram a abrir o gás, preparando-se para desfazer a curva e retomar a velocidade máxima.
Walter continuava no comando. Conduzia sabiamente, com uma segurança absoluta, mantendo sem esforço a escassa distância que o separava dos adversários. Subitamente, algo de estranho aconteceu. Engenho e homem, lançados a mais de 160 quilómetros por hora, correm para a berma da pista e precipitam-se no profundo abismo, que se cava na margem direita, onde terminava a faixa de rodagem.
Os outros motociclistas, atacados pela fúria da velocidade e pelo desejo de vencer, olhos postos na pista e nos comandos das suas máquinas, só pressentiram o desastre quando já estava consumado. Lançaram um rápido olhar a moto e deixaram-na para trás, sem ver que ela, rolando pela ribanceira, cuspiu o seu ocupante, que continuou a descida, a bater de pedra em pedra. Ao violento contacto com o fundo rochoso do precipício, o depósito de gasolina rebentou, despejou parte do conteído e incendiou-se. Poucos metros mais acima, o corpo do desportista jazia, inerte.
Quatro dos competidores que presenciaram o desatre, tiveram uma expressão espontânea, misto de satisfação e dó. O outro abrandou a velocidade, reduziu ainda mais e parou, uma centena de metros adiante. Voltou a moto, e aproximou-se do sítio onde o veículo do inglês abandonara a estrada. Não se chegou junto do rival tão tragicamente retirado da prova, nem sequer desmontou da moto. Olhou para o corpo imóvel e concluiu que, com tantos ferimentos e tanto sangue vertido, era impossível que o homem ainda tivesse vida. Por isso, concedendo ao ex-adversário um último olhar de compaixão, Marcos Dias arrancou velozmente, numa tentativa diabólica de não ser ultrapassado pelos concorrentes que se aproximavam, ouvindo-se já o ruidoso bater dos motores.
Num aumento de velocidade progressiva, acompanhado pelo roncar dos escapes, Marcos Dias foi o quinto homem a transpor a linha de chegada, arrancando da multidão frenéticas aclamações, que coroaram a sua temeridade.
o o O o o O o o O o o
Na cabine destinada ao corredor português, o seu amigo Jartur esperava-o, congeminando algumas palavras de felicitação. Quando Marcos Dias chegou ali, conduzindo vagarosamente a sua "Norton", recebeu o abraço do colega e disse:
- Ajuda-me depressa a pôr o carro lá fora. Deu-se ali atrás um acidente, e tenho a impressão de que aquilo não foi normal.
E, depois de passar um lenço pelas faces cheias de poeira e fumo, prosseguiu:
- Logo que cheguem os últimos, quero ir até lá para ver o estado em que ficou o corpo e a máquina.
Olhando a ambulância que aguardava o final da competição, em frente às tribunas, no local destinado ao estacionamento dos carros de socorro, Jartur respondeu:
- Diabo de mania a tua! - Pigarreou de uma maneira estranha e continuou, com um sorriso significativo: - Depois de duas horas de "equitação", respirando areia e gás, ainda te sentes com vontade de ir repetir pela...
- Escusas de estar com réplicas - vociferou Marcos, cortando a fala ao amigo. - Se queres vir, vem ! Se não queres vir, fica ! Eu não deixarei de ir ! E, quando voltar, por certo já não trarei este peso na consciência ! - Terminou, com voz mais calma, passando pela testa a mão de novo enluvada.
- Ganhaste ! - murmurou Jartur. - Quando sonhas com uma maldade, és capaz de revolver o mundo para encontrar o seu autor. Já agora, acompanho-te...
Entretanto, chegaram os últimos corredores.
A ambulância entrou na pista, voltou à direita, e Marcos Dias fez com que o seu "Mercedes" a seguisse de perto, não obstante a grande velocidade atingida. Pouco depois, os dois carros diminuiram de velocidade e o português fez estacionar o seu automóvel a pouca distância do outro, deixando entre eles apenas o espaço necessário para que a equipa de socorro pudesse sair com a maca.
Marcos e Jartur, acompanharam os maqueiros na difícil descida, e aproximaram-se do corpo ensanguentado. O capacete de protecção deixara-lhe a cabeça quase intacta, mas o resto do corpo parecia desfeito.
O cadáver, deitado de bruços, estava meio pendurado num enorme rochedo, pelo qual escorria ainda o líquido rubro e viscoso que lhe saíra das veias. O fato de cabedal, negro, estava manchado e roto em diversos pontos. Um pouco abaixo da omoplata esquerda, via-se no cabedal um pequeno orifício circular, ao qual Marcos Dias dispensou especial atenção. Por ali, pouco sangue saíra, mas notava-se a roupa interior ensopada naquele humor ainda quente.
Da moto, só restavam os ferros, com a pintura completamente destroçada, e os metais mais débeis sinistramente retorcidos.
Com dificuldade, os homens da ambulância conseguiram transportar o cadáver até à pista, onde a maior parte dos motociclistas que participaram na prova se haviam juntado. A polícia conservava os populares à distância, permitindo apenas a aproximação dos concorrentes e do pessoal da organização.
Logo que conseguiu chegar à estrada, auxiliando os maqueiros, Marcos aproximou-se do director da corrida, que também se deslocara até ali, e afirmou:
- Tenho a dizer-lhe, senhor Montazel, que a corrida deste ano acaba de ser assinalada com um crime.
O homem, de aspecto desportivo, onde apenas contrastava a sua grande barriga, ficou estupefacto com as palavras daquele motociclista e tê-lo-ia mandado para o diabo, se não soubesse que se tratava de um jovem detective que já inúmeras vezes fizera triunfar a justiça.
- Mas... o desastre... como explicar?... - limitou-se a tartamudear , com a voz a quere extinguir-se.
Marcoas olhou em redor e ciciou-lhe algumas palavras, fazendo sinal a um polícia para que se aproximasse. O agente correu, solícito, e o detective deu-lhe algumas instruções.
o o O o o O o o O o o
Vinte minutos depois, estavam todos os concorrentes ao "Grande Prémio de Nápoles", reunidos num pavilhão anexo à pista. A um canto, encontravam-se alguns membros da organização, um inspector da polícia, alguns oficiais e o colega do detective. Marcos Dias, a quem o inspector delegara a solução do caso, ocupava o centro do compartimento.
Depis de lançar em redor um olhar atento, o investigador disse, dirigindo-se em geral aos seus camaradas de corrida:
- Eu compreendo que todos os senhores estão... - sorriu e continuou, ainda com o mesmo sorriso sardónico - à excepção do criminoso, com grande interesse de apreciar o meu discurso. Porém, porque quero e devo concentrar a minha atenção apenas nos suspeitos, eu peço-vos o favor de abandonar esta sala, ficando só os que vinham próximo do Walter, quando o desastre se deu.
Marcos calou-se, e os desportistas começaram a sair, permanecendo na dependência apenas quatro deles, exactamente aqueles que o detective sabia que ficariam, pois ainda se lembrava dos números das máquinas que o haviam deixado para trás. Eram precisamente esses números que se viam nos capacetes que os motociclistas seguravam ainda.
Logo que a porta bateu, após a saída dos não suspeitos, Marcos Dias fez um breve sinal ao amigo, o qual se muniu com um pequeno livro para fazer as anotações que achasse necessárias. E então, o investigador começou:
- Um de nós é o criminoso. Porém, de mim não suspeito! - e prosseguiu, desfazendo o anterior sorriso - Qual de vós será então? É isso que vamos saber. Você!? - disse com mais som, apontando um dos colegas. - Em que lugar ía quando o Walter se despenhou?
O interrogado pareceu ficar nervoso e, depois, esclareceu num arranco:
- Precisamente atrás dele... talvez uns seis ou sete metros.
- E não foi você que o matou, pois não? - disse isto olhando-o bem nos olhos cinzentos, estudando as reacções que as suas palavras provocariam.
- Não, não fui eu realmente quem o matou. Nem sei nada... nada notei... - respirou perturbado e exclamou, já mais calmo: - Ia muito atento à condução.
- Já esperava essa resposta . Eu sei que nenhum de vós vai exclamar "Fui eu!" . Mas.. está bem, senhor Mason. Se eu precisar de mais algumas declarações suas, depois lhas pedirei. - Voltando-se para outro colega, prosseguiu. - Mr. Kimson... ah! Agora me lembro. Você vinha à minha frente quando o desastre se deu, não é verdade? Notei até que a sua máquina entrou na curva demasiadamente pela direita, não foi?
- Sim, isso é verdade. A suspensão relaxou-se um pouco, e eu temia apertar as curvas. Quanto ao desastre, confesso que me surpreendeu imenso, pois nada de anormal notei, até porque eu vinha preocupado com a minha moto e nunca desviei a atenção dos comandos.
- Pois, pois! - aceitou o detective. - Também eu não desviava os olhos da estrada, a não ser que um de vós me passasse, ou o passasse eu. Quanto aos nossos colegas... você não surpreendeu nenhum gesto suspeito, qualquer ruído estranho, semelhante a um tiro?
- Não, senhor Marcos. Nem uma coisa, nem outra... os motores faziam tal barulho...
- Obrigado. Por agora mais nada. É possível que depois volte a ter necessidade das suas declarações.
Os olhos dos circunstantes não deixaram de fitar o detective, que observava minuciosamente os rostos dos camaradas, tentando surpreender qualquer expressão de culpa. Marcos Dias sabia que o criminoso estava ali. Quem sabe se já o teria interrogado. O culpado, por certo estudara cuidadosamente o seu alibi. E, considerando isso, o detective avaliava as perguntas antes de as arriscar, atentando minuciosamente nas respostas que en troca recebia. Voltou-se de repente e, apontando para um dos presentes, perguntou, quase gritando:
- Martinez?! Qual era a sua posição?
Todos notaram que o atingido pela pergunta se sobressaltou. Debaixo da camada de poeira e suor já seco, o seu rosto adquiriu uma cor mais viva, e respondeu:
- Eu era o último do grupo, pois o senhor ultrapassou-me momentos antes. Creio até que na altura do acidente, a sua máquina ainda não se distanciara da minha mais do que cinco metros.
- Efectivamente! O caso está mais duro do que eu imaginava... nada se esclarece. Você notou alguma coisa de anormal? Como vinha atrás, tinha possibilidade de ver todos os outros.
- Lamento! Também nada vi que possa fazer luz no caso. Como todos, eu vinha também com a minha atenção concentrada na moto. Só o bom andamento me importava. Dão-me licença que fume? Obrigado! - disse, depois de o director lhe ter feito um sinal.
Marcos Dias estava visivelmente preocupado. Olhou mais uma vez, à sua volta, expeliu pelo nariz, com força, uma pequena porção de ar, e disse, voltando o indicador para o último dos desportistas:
- Senhor Sarrazi... imagino que também nada de importante tem a dizer, não é certo?
- Sim, é verdade. Eu corria com interesse, e principalmente naquela zona final não desviei a atenção da máquina. Aliás, é precisamente a essa atenção que eu devo a vitória de hoje.
Quando Sarrazi terminou, o investigadorvoltou a passar a mão pela testa onde ainda se notava a marca deixada pelo capacete, e falou com enfado.
- Obrigado, amigo. Acho que é melhor eu abandonar um pouco as investigações, pelo menos até nos recompormos. Estou desejoso dum banho frio... e creio que todos o desejam. - Depois de soltar um suspiro e pasar a dextra por uma das pernas, prosseguiu: - Tenho a impressão de que nenhum de nós saíu ileso. Eu tenho aqui uma queimadela que me arde furiosamente... descuidei-me com o escape. Você - continuou, falando para o homem que ùltimamente interrogara - tem uma arranhadela no rosto, coisa sem importância que muitas vezes acontece.
- Imagino que será coisa insignificante. Nem sequer notei - levou a mão ao rosto e extraíu da ferida uma pequena crosta de sangue já seco.
O detective aproximou-se um pouco do inspector e do responsável da corrida, dizendo:
- Será melhor mandá-los descansar, visto que agora nada mais se adiantará. Talvez depois de uma boa refeição se consiga alguma pista.
O inspector concordou com a decisão de Marcos Dias, e os motociclistas saíram. Os policiais iam também abandonar o pavilhão, quando um agente pediu licença para entrar e estendeu ao detective um lenço quase branco, dentro do qual estava embrulhado um objecto de formas irregulares.
- Foi encontrada precisamente no sítio onde o senhor disse para procurar - afirmou o agente, limpando ao punho do dólman, o suor que lhe descia do rosto.
O detective tirou do lenço uma pistola coberta de poeira e dise, dirigindo-se ao polícia que a trouxera:
- O senhor escusava até de ter tanto cuidado, pois eu já não esperava que ela trouxesse as impressões digitais do criminoso, porquanto todos os participantes na corrida calçavam luvas. Em todo o caso, fez muito bem. Obrigado, pode retirar-se . - Depois, voltando-se para os presentes, informou: - Esta "Parabellum", foi sem dúvida a arma utilizada pelo criminoso. Como eu imaginava, ele lançou-a fora quando passava naquele bocado de pista horrível e poeirenta, a dois quilómetros daqui.
O inspector, examinou também a arma e devolveu-a a Marcos Dias. Este, por sua vez, premiu o fixador do carregador, e extraiu cinco cartuchos de dentro do carregador. Depois, experimentou o funcionamento da arma. Fez recuar a culatra, e o cartucho ejectado por ese movimento caíu, sem grande ruído, no soalho do pavilhão. O obeso director da corrida, iniciou um movimento de recuo que lhe ditara o instinto de conservação, mas imobilizou-se e acabou por sorrir, enquanto o jovem detective, imperturbável, se curvou para apanhar a munição. Juntou o cartucho, meteu o carregador no sítio e guardou a arma, na intenção se confrontar o calibre do cano, com a bala que certamente o médico legista já extraíra.
o o o o o o o o o
Marcos e Jartur, estavam nos seus aposentos do hotel "FORMIDABILI", onde o detective relia os apontamentos feitos pelo amigo, enquanto saboreava uma chávena de reconfortante café. O telefone tocou e Jartur foi atender, limitando-se a pronunciar o seu nome. Segundos depois, pousou o auscultador e dirigiu-se ao companheiro:
- Era o doutor Brognoli. Diz que a "ameixa" foi encontrada no pulmão esquerdo e pertence a uma arma de nove milímetros. A morte foi imediata. O corpo apresenta inúmeras fracturas. - Jartur pegou no livro que o amigo lhe estendia, e anotou aqueles dados.
Marcos Dias sorveu mais um pouco de café e ficou imóvel por alguns minutos, enqunto os seus olhos fitavam as ténues espirais que se elevavam do recipiente e desapareciam antes de atingir o tecto. As suas feições estavam tensas, retratando o enorme esforço que o seu cérebro fazia. De súbito, levantou-se e saltou para o telefone. Discou um número e aguardou que atendessem. Jartur continuava sentado, folheando plàcidamente o último exemplar do "Corriere della Sera".
Quando Montazel falou, do outro extremo da linha, o detective disse:
- Ainda bem que o agarro em casa. Mande prender imediatamente o...
- Alto! - gritou Jartur correndo para junto do amigo - Não vês que me ias estragando o problema ?! Vá! Fala mais baixo...
o O o O o O o O o
O Mercedes deslizava velozmente, deixando para trás o solo italiano. Os seus ocupantes conversavam, gargalhando abertamente sempre que um dito espirituoso o induzia. Nem o roncar do motor, nem o chiar dos pneus, nem a música da telefonias, nem o gritar dos cadeados que seguravam o atrelado onde viajava a moto, nem o sibilar do vento que lhes fustigava o rosto conseguiam ser mais fortes do que a sua alegria.
Durante centenas de quilómetros, a sua alegria não diminuiu. Multiplicou-se, até, quando os dois portugueses avistaram o céu azul-claro da sua pátria.
o O o O o O o
PERGUNTA - SE:
Quem foi o criminoso?
Qual foi o pormenor que o acusou?
Exponha o seu raciocínio.

Publicado na secção policial "MISTÉRIO", que o autor orientou na colecção
de livros policiais "PANTERA NEGRA", em 1958.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

LIÇÃO:10.01.2008

Aqui estou eu, a matraquear um pouco, tentando assimilar, paulatinamente, a forma de produzir trabalho de interesse e utilidade para mais duas ou três pessoas.

Aqui hei-de plasmar, toda a enorme quantidade de trabalhos, literários e artísticos, por mim produzidos ao longo dos anos.
Tenho uma certa criatividade no campo poético, mas a minha maior actividade de escrita e investigação histórica, desenvolveram-se no âmbito da banda desenhada e da problemística policiária.
Ainda que a minha actividade profissional mais duradoura tenha sido na área do Desenho Técnico, mais concretamente o desenho de arquitectura, depois de ter passado nove anos como operário cerâmico desenvolvendo os conhecimentos elementares adquiridos academicamente com o Curso Industrial de Pintor Cerâmico, elaborei alguns trabalhos de artes gráficas para para jornais, revistas e livros.
No decorrer destes escritos, talvez eu possa a vir a apresentar uma listagem dessa variedade de trabalhos.
E por hoje, é tudo. Jartur

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Efemérides

JOÃO ARTUR MAMEDE
jarturmamede@aeiou.pt

Prezados confrades e Amigos “sherlocks”

Amanhã, 15 de Março de 2007, faz 59 anos que o Jornal da Mocidade Portuguesa, o “CAMARADA”, começou a publicar uma excelente secção policiária, orientada pelo nosso querido mestre “SETE DE ESPADAS”.
Para relembrar a efeméride, tenho o gosto de vos enviar a primeira página dum estudo, quase concluído, dedicado a essa secção.
Era minha intenção anexar digitalização da capa desse exemplar do CAMARADA, mas desta vez ainda não “dominei esta geringonça”.
E vá lá, que já será um êxito, se isto chegar ao destino.
Agradeço aos destinatários desta mensagem, o favor de a fazer circular pela legião de Amigos que nasceram para o POLICIÁRIO, graças à força anímica, à simpatia, à camaradagem e ao talento do “SETE”.
Bem hajam, AMIGOS!

Um abraço do J A R T U R

Compilação de: “Jartur”
João Artur Mamede
15 de Março de 1948 / 30 de Dezembro de 1950

No dia 1 de Dezembro de 1947, a Mocidade Portuguesa iniciou a publicação de um “jornal para rapazes”, que se intitulava “CAMARADA”.
Era um jornal juvenil bastante atractivo para a classe etária a que se destinava, essencialmente estudantes dos colégios, liceus e escolas técnicas. Havia já outras publicações congéneres, que publicavam na sua maioria literatura e arte oriundas do estrangeiro.
Esta, porém, de aliciante aspecto gráfico, colorido, apresentava ilustrações, contos, poesias, passatempos, palavras cruzadas, charadas, e histórias em quadradinhos, sendo tudo, ou quase tudo, produzido por escritores e artistas portugueses.
Todavia, o seu conteúdo como jornal juvenil de banda desenhada, deverá ser tratado em estudo de outra especialidade. Aqui, importa-nos analisar, especificamente, o seu valioso contributo para o desenvolvimento da problemística policiária.
Foi no n.º 8 do jornal «CAMARADA», distribuído em 15 de Março de 1948, que surgiu uma nova página, cujo cabeçalho, colorido e misteriosamente atractivo, anunciava:

M I S T É R I O E A V E N T U R A
SECÇÃO POLICIAL ORIENTADA POR: SETE DE ESPADAS

Numa curta mensagem, informavam-se os leitores de que quinzenalmente se publicaria um problema policial, e seriam tratados outros assuntos relativos à literatura policial e de mistério e acção. Também se solicitava aos leitores o envio de problemas, e se prometia resposta às perguntas que fossem formuladas. Ali se iniciava um TORNEIO DE PREPARAÇÃO, sendo o seu Problema n.º 1 – O ERRO E O CASTIGO, da autoria de SETE DE ESPADAS, e com a acção do «detective» - amador por si criado, RUI DE MENDONÇA. Neste problema, como noutros que se seguiriam havia um desenho que ilustrava o texto, e que poderia contribuir para a sua solução.
Como é lógico, nem sempre poderiam ser publicados problemas policiais, já que a secção teria também que divulgar soluções, classificações, noticiário sobre iniciativas próprias ou alheias, informações diversas, e a sempre interessante e desejável troca de impressões com os leitores, que o “SETE DE ESPADAS” entabularia som o título: “Chamada Particular”.
A este trabalho de pesquisa, poderá ser anexado um caderno gráfico com as fotocópias das páginas que constituíram a secção. Estarão “remontadas”, para uma melhor utilização de espaço, de forma que os fragmentos de “continuações” da secção, se acomodem nas fotocópias da forma mais conveniente, sempre referenciados, nem sempre anexos à secção a que dizem respeito, mas sempre nas suas imediações, página antes ou página depois.
Por esse motivo, não iremos alongar-nos num extenso relatório ou historial. Limitar-nos-emos a ligeiros apontamentos, que possam chamar a atenção para algum texto mais interessante, ou estabelecer um certo separador entre os quadros, ou as fases dos torneios.

O que é essencial que façamos, para este ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA, é a elaboração de “Quadros” que permitam ordenar, cronologicamente e com clareza, em especial todos os problemas policiais e seus autores, e depois, se possível, os decifradores participantes em cada certame, e as respectivas classificações.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"MOSQUITO-Magazine"

Prezados confrades e Amigos “sherlocks”

Em 3 de Dezembro de 2007, fez 67 anos que a secção apareceu no jornal infantil “MOSQUITO - Magazine”, publicação satélite daquela que foi a mais marcante revista de histórias aos quadradinhos, no universo das publicações portuguesas da especialidade.
Sendo a primeira secção policial publicada num jornal infantil, (para uma classe etária que não usufruía ainda dos benefícios da boa e sã literatura policial e de aventuras), não admira que tivesse uma pequena lista de leitores, e que os problemas se situassem num primeiro escalão de dificuldade.
Se tivermos a ventura de chegar ao titular da secção, aqui lhe deixamos as melhores saudações.
Para o , já preparámos um trabalho, e estamos ensaiando a melhor forma da sua futura divulgação graciosa, pelos interessados que acusem a recepção desta, e se mostrem interessados pelo trabalho anunciado.
Com a amizade do J A R T U R